22 julho 2017

A cigana

Ela é uma mulher. Uma fêmea. Uma fortaleza em alguns momentos, e completamente frágil em outros. É forte, e por mais que envergue a coluna jamais se quebra, mas é frágil e se encolhe dentro de sua própria concha para tentar curar as feridas. Guiada pela lua, é instável como as marés, e como ela é composta por fases. Entende e sonda os mistérios do mundo, compreende a linguagem da natureza e intui o andamento da vida. E ao sabor da música cigana leva sua vida. Tem na ponta dos dedos o poder da cura para os seus, e no olhar as estrelas do céu. Profunda como o oceano, esconde nos olhos escuros os mistérios de seus sentimentos. Seus cabelos são como um manto, e a pele é suave, marcada levemente pelo tempo. O corpo há tempos não é mais o mesmo, as curvas acentuaram-se em alguns pontos, e perderam-se noutros, trazendo os sinais da sua passagem pela vida. O sorriso largo, radiante, esconde por vezes tristezas profundas, jamais ditas ou explícitas. A voz, suave ou forte, calma ou firme, traz a frequência do que vai em seu peito. O coração, ah, este sim, independente, sente aquilo que deseja e mostra o que bem quer, não respeitando as ordens do cérebro. Pequena na estatura, sabe ser imensa quando defende seu território ou a sua cria. Ela é intensa. É uma tempestade, irrefreável, incontrolável, insondável. Esconde o que lhe vai no íntimo, e poucos são os que conseguem entender o tamanho da sua alma. Madura, tem no peito sentimentos confusos. Não sabe lidar com eles, nem com as incertezas do mundo. Crente na bondade alheia, vive se frustrando e se machucando. Enxerga as dores alheias sem ver, e as sente em sua própria pele, mas não compartilha as suas e as esconde sob seu sorriso. Ama e sofre com intensidade, um vulcão prestes a explodir. Tem no peito a incerteza do abandono e o medo do desconhecido, a ânsia pelo amor e pelo cuidado, a vontade de ser cuidada e de cuidar. Sonha com o tempo em que sua alma se fará sábia, e encontrará em si mesma a felicidade.

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