22 julho 2017

Lembranças

Ele... pensou nele e tentou reter na memória a sua figura. Esse afastamento fez com que enxergasse algumas coisas que antes não vira. Sempre se recordava do rosto, quadrado, e dos cabelos cheios. Ao revê-lo, os cabelos estavam mais baixos, mais prateados, mas o rosto era o mesmo. A boca, com um formato que pedia para ser beijada. Mas algo que não se lembrava tão intensamente da primeira vez, e que havia marcado muito dessa última, eram os olhos. Cor de conhaque, de avelã, quentes, expressivos. Olhos que sempre lhe disseram dos seus sentimentos, das suas emoções.
Alto, tinha a altura perfeita para protegê-la. Braços fortes, mas não exagerados, suficientes para acolhê-la no seu abraço cuidadoso, protetor, terno. Hoje, porém, via que sua altivez de outrora já não estava presente todo o tempo. Vez ou outra o sentira com os ombros caídos. E creditava isso ao cansaço. Ela, hoje, sabia que este cansaço se devia na verdade a um cansaço de sua alma, que estava exausta de lutar entre o que o que queria acreditar e o que queriam que ele acreditasse.
Lembrou de seus beijos... quentes... a boca desenhada, que se encaixava perfeitamente na sua. As palavras proferidas... as promessas... os sorrisos... custava a acreditar que a mesma boca lhe tivesse dito aquelas palavras terríveis. A sorte é que o olhar traíra a boca, e ela vira ali a resposta aos seus medos e anseios.
Pensou em tudo o que viveram naquele relacionamento. Pensou na intensidade dos sentimentos e das emoções daquele tempo. Em como suas vidas haviam se encaixado tão perfeitamente em tão pouco tempo. Em como seus sonhos se completavam, e seus desejos se encaixavam. Lembrou dos momentos intensos e profundos, e em como seus corpos e almas se misturavam.
Compreendeu então que as forças que o haviam afastado de si poderiam ser vencidas, pela sua força de vontade e pelas suas preces. Era apenas a maldade humana travestida de magia, e ela não se deixaria abater. Mostraria que o bem sempre vence, apesar das tentativas feitas em sentido contrário. Sentia que seus destinos estavam ligados por um fio mais forte e que bastava apenas que ele encontrasse esse fio para voltar. Fixou seus pensamentos nele, e o chamou. Estava certa de que ele a ouviria... e quando ele voltasse, estaria ali esperando...

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